MANHÃ
Oh, a frescura intensa da manhã,
Batendo, lado a lado, toda a estrada!
– Inda ha pouco apanhei uma braçada
De alfazema florida, ingenua e sã...
Abre, no céu, a fulgida romã
Que em beijos de oiro se desfaz, cançada,
Oh, como eu sinto agora remoçada
A minha fé tranquilla de christã...
Nos silvados despontam as amoras.
Começa, ao longe, a vibração das nóras,
Todo o campo se alegra e se ilumina!
Passam pardaes a granizar em bando,
Um rebanho, um pastor, de quando em quando,
– E cheira a matto, a fructos, a resina...
In “Contemporanea”
Director – José Pacheco
Redactor Principal – Oliveira Mouta
Editor – Agostinho Fernandes
Ano I – Volume II – Nº.6 - Ano 1922
Pág. 93
Mantém a grafia original
Virgínia Victorino
(1895-1968)
ALELUIA
Antes de te encontrar nem eu vivia
Nem mesmo sei dizer quem dantes era.
Andava atrás do sonho, da quimera,
procurava-se sempre e não te via.
Tu és o tronco. Eu sou a folha d'hera
Tu és na minha noite um claro dia.
Dás à minha tristeza uma alegria
Trazes ao meu inverno a primavera.
Esta paixão, sei lá porque m'a fazes...
Dá-me rosas, e cravos, e lilazes...
Eu quero a minha vida bem mudada.
Como se encontra o bem que se procura!
O meu passado esqueço-o: é noite escura.
Abro os olhos agora: é madrugada.
In “Namorados”
Portugália Editora – 1924
Virgínia Victorino
1895 – 1968
TRISTEZA
Nos dias de tristeza, quando alguém
Nos pergunta, baixinho, o que é que temos,
Às vezes, nem sequer nós respondemos:
Faz-nos mal a pergunta, em vez de bem.
Nos dias dolorosos e supremos,
Sabe-se lá donde a tristeza vem?!...
Calamo-nos. Pedimos que ninguém
Pergunte pelo mal de que sofremos...
Mas, quem é livre de contradições?!
Quem pode ler em nossos corações?!...
Ó mistério, que em toda parte existes...
Pois, haverá desgosto mais profundo
Do que este de não se ter alguém no mundo
Que nos pergunte por que estamos tristes?!
In “Namorados”
Portugália Editora – 1924
Virgínia Victorino
1895 – 1968
RENÚNCIA
Fui nova, mas fui triste... Só eu sei
Como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade,
Devia ter cantado e não cantei...
Fui bela... Fui amada e desprezei...
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...
Ai de mim!... Nem saudades, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis prender...
E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...
In “Namorados”
Portugália Editora – 1924
Virgínia Victorino
1895 – 1968
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