VEM E DIZ
Vem e diz. Que enorme casa resplandece
de bronze, que vento destrói as belas
lavouras, quem entende a fala das perdizes,
ungidas da luz matinal.
Vem e diz. Por um tempo de nada, a juventude
banha a nudez do rosto e nos deleita
dos amáveis dons da idade. Em minha casa amada,
sou uma tâmara redonda e madura.
Vem e diz. Quem nos ensina o caminho
da cidade, que pão amassado é arma excelente,
pendular e lenta, da agonia, que distância
nos isola dos homens de fala dotados.
Vem e diz. Não invejo os deuses nem as suas
acções, não mudo o pranto em louvor, nem
das brisas oceânicas provém o passo
da fortuna, areia fugida à contagem.
Vem e diz. Que sombra de sonho é o
homem, o que de muitos veio para ser único,
o que, ornado de ouro e alado, em dez
medidas de água sucumbe, em bolor se devora.
Vem e diz. Bebamos
In “Lamentação em Cáucaso”
Património XXI – 1991
Orlando Neves
1935 – 2005
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