À MORTE DE F.
Esse jasmim, que arminhos desacata,
Essa aurora, que nácares aviva,
Essa fonte, que aljôfares deriva,
Essa rosa, que púrpuras desata;
Troca em cinza voraz lustrosa prata,
Brota em pranto cruel púrpura viva,
Profana em turvo pez prata nativa,
Muda em luto infeliz tersa escarlata.
Jasmim na alvura foi, na luz Aurora,
Fonte na graça, rosa no atributo,
Essa heróica deidade que em luz repousa.
Porém fora melhor que assim não fora,
Pois a ser cinza, pranto, barro e luto,
Nasceo jasmim, aurora, fonte, rosa.
Fénix Renascida III
In “Ler Por Gosto”
Areal Editores
Francisco de Vasconcelos
1665 – 1723
À FRAGILIDADE DA VIDA HUMANA
Esse baxel, nas praias derrotado,
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol, nos ceos, escurecido,
Foi do monte libré, gala do prado.
Esse nácar em cinzas desatado,
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse estio em Vesúvios encendido,
Foi Zéfiro suave, em doce agrado.
Se a nao, o Sol, a rosa, a Primavera,
Estrago, eclipse, cinza ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,
Olha, cego mortal, e considera
Que é rosa, Primavera, Sol, baxel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.
IN "Fénix Renascida III"
Francisco de Vasconcelos
1665 – 1723
A UM ROUXINOL CANTANDO
Ramalhete animado, flor do vento,
Que alegremente teus ciúmes choras
Tu, cantando teu mal, teu mal melhoras,
Eu, chorando meu mal, meu mal aumento.
Eu digo minha dor ao sofrimento
Tu cantas teu pesar a quem namoras,
Tu esperas o bem todas [as] horas,
Eu tenho qualquer mal tudo o momento.
Ambos agora estamos padecendo
Por decreto cruel do deos mínimo;
Mas eu padeço mais só porque entendo.
Que é tão duro e cruel o meu destino
Que tu choras o mal que estás sofrendo,
Eu choro o mal que sofro e que imagino.
IN "Fénix Renascida" III
Francisco de Vasconcelos
1665 – 1723
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