ÚLTIMO POEMA DO AMOR AUSENTE
Todo o corpo lhes dói de acertar os relógios
De momento a momento às vantagens do tempo
Meu amor meu amor tem por vezes o gosto
Do veneno sorvido ao desabar das pontes
A mais frágil aragem os confunde
O espaço aberto enreda-lhes os passos
O convívio da vida esboroa as palavras
A liberdade é um peso enorme nos seus ombros
«Tudo quando perdi na violência do tempo
Veio hoje até mim como o espinho da flor
Como o operário morto entre o ferro e o cimento
Da construção do amor
Foi um lento e incógnito perfume
Foi um lago sem margens intransposto
Foi uma pedra vermelha de lume
O mais belo sorrir de desgosto»
In “Poesia dos Dias Úteis”
Publicações Europa-América
Vasco Costa Marques
(1928-2006)
O MAR MAR DE PESCAR
O mar mar de pescar
quase não há
Um destino de dor e de paixão
pão de pedra da fome
enreda lentamente o pescador
lentamente o consome
E face a esta morte anunciada
ao Velho do Restelo só lhe resta
pegar no seu bordão e na sacola
e ir pedir reforma antecipada
que para ele decerto
é coisa ainda mais amarga
do que pedir esmola
In “Algumas Trovas de Haver o Mar e um Post Scriptum”
Editora Campo das Letras
Vasco Costa Marques
(1928-2006)
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