SE NÃO ME QUERES NO VENTO AGRESTE
se não me queres no vento agreste
paro de te soprar no coração. pousa
o pássaro, pousa a tinta, posam as
folhas a tua mão.
vê-me no campo, entre os seres criados
para comer os raios do sol.
In "Anos 90 e agora"
Selecção e organização de Jorge Reis-Sá
Editora Quasi
Valter Hugo Mãe **
(N.1971)
** Nome artístico de Valter Hugo Lemos
o homem que já não sou
não me olhes agora que estou
mais velho e não correspondo em
nada ao homem que
amaste, procura encarar a tristeza
sem me incluíres, seria demasiado
cruel que me usasses para a
dor. para ti
quis trazer as coisas mais belas
e em tudo o que fiz pus o
cuidado meticuloso de quem
ama. não me obrigues a cortar os
pulsos quando fores num minuto ao
jardim com o cão
esta noite, sem notares, sustive a
respiração e quase morri. não deste
por nada. julgaste que voltei a
ressonar e até terás esboçado um
sorriso. e se eu pudesse morrer
enquanto sorris, pergunto
deixo para depois, ou talvez
desista. mas não pode ser se
tu me olhares em busca de tudo o que
já não existe. não pode ser, levo a
faca maior para debaixo do meu
travesseiro, juro-te que me
mato se continuares assim
in “contabilidade”
editora objectiva (alfaguara)
valter hugo mãe **
n. 1971
** nome artístico de valter hugo lemos
não é gralha, nem descuido ortográfico. é mesmo de propósito, tudo em letras pequenas: valter hugo mãe. nas suas páginas, não se vislumbra uma maiúscula.
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