QUEIXAM-SE TODOS OS DEFUNTOS,
QUE HOUVE NA EPIEMIA QUE
PADECEU LISBOA, NO ANO DE 1723
Nós, abaixo assinados pela terra,
clamamos, de que em tanta mortandade
não tenha entrado Médico, nem Frade;
e que só faça a morte aos pobres guerra!
Dirá a morte que pouco ou nada erra,
em desviar de toda a enfermidade
a dois que são da sua faculdade;
porque o Médico mata e o Frade enterra.
Replicamos: que as tumbas com frequências,
andam cá por estreitos pecadores,
sem subirem às largas consciências.
Dirá também que os tais são matadores;
e é preciso que tenha dependências
a morte com Ministros e Senhores.
In “Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer”
Selecção e org. de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Tomás Pinto Brandão
1664 – 1743
AS DUAS REGATEIRAS PELEJANDO
Clara e salva sejais, Clara Vicente!
Vedes tamanho mal? Que esta malvada
Tem língua e quer falar em gente honrada,
Sabendo vós quem é e de que gente.
Por isso o mundo vai de balravente!
Assim veja eu Brites bem casada,
Que em quanto disse e fala esta coitada
Com quantos tem na boca, todos mente.
Vós vedes, e quão má língua é de praga.
Ora, enfim, cada qual dá o que tem,
Por isso em mim não faz nem desfaz nada.
Que a que é boa e honrada não se apaga
Com ditos de uma suja, olhai de quem!
Louvado a Deus, sou bem casada!
Fénix Renascida
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Livª. Civilização Editora – Porto e Contexto Editora – Lisboa
D. Tomás de Noronha
? – 1651
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