TRISTEZA
Mas quem sou eu? Um vulto que a tristeza
Modelou numa nuvem do poente…
Sou irmão da tristeza, irmão das sombras
Das árvores que os ventos enlouquecem
E dançam, de mãos dadas, ao luar.
Sou irmão da tristeza; e em nome dela
Ando por estes montes solitários,
Quando as ermas trindades da noitinha,
Em percutidas badaladas de oiro,
Parecem despertar na escuridade
Medos, aparições, visões de outrora…
Divago nos pinhais, à luz da lua,
Sozinho, quando o zéfiro acordado
Aligeira, nervoso, as frias asas,
E ouço através da rama verde-negra
Murmúrios, vozes tristes,
Versos de dor em ritmos de penumbra,
Irmãos daqueles que eu compus
Nesse divino instante em que senti
Encher-me, para sempre, o coração
Desconhecida mágoa descendida
Das alturas fantásticas da noite.
In “Ler Por Gosto”
Areal Editores
Teixeira de Pascoaes
1877 – 1952
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