Domingo, 8 de Março de 2009

Recordando... Poetisas Naturais do Porto - Portugal... Sophia de Mello Breyner Andresen

QUANDO

 

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.



In “Dia do Mar” – 5ª edição revista

Editorial Caminho – 2005

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

1919 – 2004

 

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Terça-feira, 4 de Novembro de 2008

Recordando... Poetas naturais do Porto - Portugal (2)... Sophia de Mello Breyner Andersen

TU DORMES

 

Tu dormes embalado nos rochedos

E aos meus ouvidos vem falar o vento.

Escuto, busco, chamo e não respondes,

E todo o mundo se tornou fantasma.

 

Estou fechada, suspensa, prisioneira

Queria voltar para fora, para o dia,

Ressurgir, respirar, tornar a ver,

Mas todo o mundo se tornou fantasma.

 

E a voz do mar encheu o céu e a terra

Uma voz que está cheia e se quebra

E nunca mais acaba.

 

Pássaros brancos cortam as janelas,

Anémonas cintilam nos rochedos:

Terror de estar sozinha e de escutar

Com este tempo morto entre os meus dedos.

 

 

In “Obra Poética I”

Editorial Caminho – Março de 1998

 

Sofia de Mello Breyner Andresen

1919 – 2004  

 

 

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Sexta-feira, 1 de Fevereiro de 2008

Recordando... Poetas que deram "voz" ao Porto... Sophia de Mello Breyner Andersen

 

PAISAGEM

 

 

Passavam pelo ar aves repentinas,

O cheiro da terra era fundo e amargo,

E ao longe as cavalgadas do mar largo

Sacudiam na areia as suas crinas.

 

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,

Era a carne das árvores elástica e dura,

Eram as gotas de sangue da resina

E as folhas em que a luz se descombina.

 

Eram os caminhos num ir lento,

Eram as mãos profundas do vento

Era o livre e luminoso chamamento

Da asa dos espaços fugitiva.

 

Eram os pinheirais onde o céu poisa,

Era o peso e era a cor de cada coisa,

A sua quietude, secretamente viva,

E a sua exalação afirmativa.

 

Era a verdade e a força do mar largo,

Cuja voz, quando se quebra, sobe,

Era o regresso sem fim e a claridade

Das praias onde a direito o vento corre.

 

 

In "Obra Poética I"

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

1919 – 2004

 

 

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Sexta-feira, 9 de Novembro de 2007

Recordando... Poetas séc. XX (1)... Sophia de Mello Breyner Andresen

 

PORQUE

 

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão.

Porque os outros têm medo mas tu não.

 

Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.

 

Porque os outros e compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.

 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.

 

 

In "Mar Novo"

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

1919 – 2004

 

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Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007

Recordando... Sophia de Mello Breyner Andersen

 

O POEMA

 

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

 

 

 

In "Livro Sexto" – 1962

 

Sophia de Mello Breyner Andersen

1919 – 2004

 

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