SONETO
Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
In “Poesias Completas” (1956-1967)
Prefácio de Jorge de Sena
Sá da Costa Editora – Lisboa -1987
António Gedeão **
(1906-1997)
** Pseudónimo de Rómulo de Carvalho
SONETO XVI
O louro chá no bule fumegando
De Mandarins e Brâmanes cercado;
Brilhante açúcar em torrões cortado;
O leite na caneca branquejando.
Vermelhas brasas, alvo pão tostado;
Ruiva manteiga em prato bem lavado;
O gado feminino rebanhado,
E o pisco Ganimedes apalpando;
A ponto a mesa está de enxaropar-nos.
Só falta que tu queiras, meu Sarmento,
Com teus discretos ditos alegrar-nos.
Se vens, ou caia chuva, ou brame o vento,
Não pode a longa noite enfastiar-nos,
Antes tudo será contentamento.
Obras Poéticas de Pedro António Correia Garção
In “Ler Por Gosto”
Areal Editores
Pedro António Correia Garção
1724 – 1772
SONETO
Amor, se uma mudança imaginada
É já com tal rigor minha homicida,
Que será se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?
Se só por ser de mim tão receada,
Com dura execução me tira a vida,
Que fará se chegar a ser sabida?
Que fará se passar de suspeitada?
Porém se já me mata, sendo incerta,
Somente imaginá-la e presumi-la,
Claro está (pois da vida o fio corta).
Que me fará depois, quando for certa,
Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.
Rimas Várias
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Livª. Civilização Editora – Porto e Contexto Editora – Lisboa
Soror Violante do Céu
1602 – 1693
SONETOS RECITADOS NA PRAÇA DA CONSTITUIÇÃO
(HOJE DE D. PEDRO) NAS NOITES DE 3 E 4 DE MAIO DE 1821,
FESTEJANDO O CORPO DO COMMERCIO DA CIDADE DO PORTO
COM TODA A POMPA A FAUSTA NOTICIA DE TER S. M.
O SENHOR D. JOÃO VI JURADO A CONSTITUIÇÃO.
SONETO X
Foste, ó Porto, o primeiro que esforçado
Soubeste afuguentar Gallos intrusos;
Recobrados por ti antigos usos,
Por ti ao bom Monacharca o Reino dado.
Foste o primeiro que abateste ousado
Ruinosos, domesticos abusos;
Sendo o Porto immortal aonde os Lusos
A bonança feliz tem sempre achado.
Hoje és tu, que distinto mais fulguras
Na adhesão ao teu Rei, quando festejas
Seu grã triumpho sobre harplas duras.
Dando-lhe, sim, de amor provas sobejas,
Mostras que tuas são suas venturas,
Que só para seu bem, teu bem desejas.
In “Collecção de Poesias Reimpressas e Ineditas”
Tomo I – 1860
Typ. Sebastião José Pereira
Antonio Joaquim de Mesquita e Mello
1792 – 1884
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