A GREI
São homens bons e honrados cavaleiros.
São homens de lavoura e dos misteres.
Eles serão na morte os primeiros,
Sempre que tu, ó Pátria, assim quiseres!
Irão bater no mar dos cerraceiros,
Irão servir-te aonde tu quiseres!
E passam confrarias. Marinheiros
Passam levando os filhos e as mulheres.
Casaram-se os arados com as redes.
O Rei, por entre o povo, é como vedes,
Um português com outros a tratar.
Pintor da Grei, eis tudo o que tu pintas!
Nuno Gonçalves, vá, prepara as tintas,
Prepara as tintas, vem daí pintar!
In «Pequena Casa Lusitana»
António Sardinha
1887 – 1925
CHUVA DA TARDE
Chuva da tarde, – melodia mansa,
desejos vagos de chorar baixinho...
Voltei aos meus caprichos de criança,
- só quero, Amor, saber do teu carinho!
Chuva da tarde...
Na poeira ardente
cai um frescor inesperado e calmo.
É um frescor que purifica a gente
- como a leitura mística dum Salmo!
Floresçam jasmineiros e açucenas,
- acuda-se à tristeza das raízes!
Que tu, Amor, com tuas mãos pequenas,
as guardes da estiagem e as baptizes!
Meu coração doente remoçou-se,
quando o tocaram essas mãos piedosas...
Chuva da tarde, – enfermaria doce,
onde vão convalescer as rosas!
Chuva da tarde...
Ao longo das varandas
reza mistérios lentos a noitinha.
Que bem não é sonhar em coisas brandas,
nas tuas brandas asas de andorinha!
Deixa que a sombra te emoldure a face,
- eleva no silêncio a tua voz!
O Cântico dos Cânticos renasce,
- diria até que se escreveu p'ra nós!
António Sardinha
1887 – 1925
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... António Sar...
. Recordando... António Sar...