NUA
I
Nua
como Eva.
A cabeleira
beija-lhe o rosto oval e flutua;
o corpo
é água de torrente...
Eva adolescente,
com reflexos de lua
e tons de aurora...!
Roseira que enflora...!
Desflorada por tanta gente...
II
Teu corpo,
mal o toquei...
Só te abracei
de leve...
Foi todo neve
o sonho que alonguei...
Asas em voo,
quem, um dia, as teve?
Os sonhos que eu sonhei!
III
Jeito de ave
e criança,
suave
como a dança
do ramo de árvore
que o vento beija e balança!
Nave
de sonho
no temporal medonho
silvando agoiro!
Quem destrançou os teus cabelos de oiro?
IV
Corpo fino,
delicado,
sereno, sem desejos...
Tão macio,
tão modelado...
Beijos... Beijos... Beijos...
V
No meu sono
ela flutua
a cada passo...
Nua,
riscando o espaço
numa névoa de outono...
Apenas nos cabelos
um azulado laço...
E assim enlaço
a imagem sua...
In "Sangue"
Ed. Ser
In “Obra Poética”
Ed Campo das Letras
Saúl Dias **
(1902-1983)
** Pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira
SOFRO
Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma...
Sofro
de te perder.
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos...
Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?
In “Tarde Azul”
Editora Bonecos Rebeldes - 2008
Saúl Dias **
(1902-1983)
** Pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira
ENQUANTO O FILHO DORME
De noite acordo e quero ver-te. Dormes
tão quentinho no leito aconchegado
Lá fora, o inverno, túmido, pesado
de ventaneiras, temporais enormes.
O relógio dá horas, meias horas,
e eu não me canso de fitar teu rosto,
sereno, róseo...Nem pelo agosto
há tanta claridade nas auroras!
Neva lá fora. Como é quente aqui!
Aqueço as minhas mãos à tua beira,
tal como ao lume bom duma lareira.
E arde o lume que provém de ti!
Que viva a chama! Que calor tão bom!
Que bem aquenta um pobre coração!
In “Sangue”
Edições "Ser"
Saul Dias **
1902 – 1983
**pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira
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