SÓ DEUS
Quem manda ao peregrino, afadigado
Das lides da romagem,
Um perfume da pátria, misturado
Doutros climas na aragem?
Quem lhe diz «Lá te espera o teu albergue
E os filhinhos e a esposa
Que a Deus por ti as mãos trémulas ergue
Em prece fervorosa?»
Quem ao nauta, perdido entre a procela,
Longe nos horizontes,
Mostra do raio à luz, rápida e bela,
Da sua aldeia os montes?
Quem lhe diz «No Senhor tem fé e espera
Que não tarda a bonança,
E sempre, mais e mais, nos seios gera
Nova, fecunda esperança?»
Quem aos órfãos do mundo abandonados,
Envia docemente,
Para aquecer-lhe os membros congelados,
Do sol um raio ardente?
Quem à viúva infeliz enxuga o pranto
Co’a mão da caridade
E lhe leva um consolo sacrossanto
Às trevas da orfandade?
Ao cativo, que chora entre as algemas
De infame tirania,
Quem diz «Bem cedo há-de raiar, não temas,
Da liberdade o dia?»
Vãs perguntas: Seu nome não se esconde,
Em tudo está presente...
Não ouves uma voz que te responde:
«É Deus! é Deus somente?!»
In ”A Grinalda” *
Guilherme Braga
1845 – 1874
* Foi um antigo (1855-1859) jornal portuense de poesia romântica.
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