ROMANCE DO RIO DOURO
Rio Douro, rio Douro,
que vais tu dizer ao mar
com cem palavras ferindo
um ovo que não se abre?
Teus dedos de névoa crescem,
desfibram-se pelo vale;
e uma rosa angustiada,
na areia do areal.
Rio Douro, rosa de água,
que tens tu para contar?
Rio, não fales de nós
ao senhor rei que é o mar:
ir falar a certa gente
é o mesmo que não falar.
Fala connosco, se és nosso,
revela o ovo da paz,
pondo-nos dentro da alma
as cidades de luar,
o mel dos favos da aurora,
laranjas do laranjal,
a doce força dos robles
cheios de sol e de sal,
que por mais que o vento vente,
resistem ao vendaval.
In "Os Homens Cantam a Nordeste"
Editora Nova Realidade
António Cabral
(1931-2007)
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