DUPLO IMPÉRIO
Atravesso as pontes mas
(o que é incompreensível)
não atravesso os rios,
preso como uma seta
nos efeitos precários da vontade.
Apenas tenho esta contemplação
das copas das árvores
e dos seus prenúncios celestes,
mas não chego a desfazer
as flores brancas e amarelas
que se desprendem.
As estações não se conhecem,
como lhes fora ordenado,
mas tecem o duplo império
do amor e da obscuridade. "
In "Duplo Império"
Pedro Mexia
(N.1972)
NOIVA DE DEUS
Como no filme, era noiva de Deus,
confessou-me, ríspida, seu
perseguidor. Os seios
ainda facilmente me oprimem
o fôlego, anos passados.
Eu tentava a pouca arte, a repetição,
mas ela e Deus promessi
sposi (foi isto em Itália).
Álibi, imaginei, sempre generoso.
Mas não: em Setembro abandonava
a roupa civil, escondia os cabelos
pretos, ia entregue. Não sei
como se passou: uma década quase,
nem o seu nome. Apenas
um poema como lápide, como
ironia, o volume ainda laico
do seu peito e a última vez
que concorri com Deus.
In "Vida Oculta"
Relógio d'Água Editores
Pedro Mexia
N. 1972
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