FESTEJAR NO TEU CORPO A LIBERDADE
Festejar no teu corpo a liberdade
que a dobra desta noite pronuncia
sobre o nervo da voz foça de alarme
garganta milimétrica de abril
um cravo da coronha de um soldado
no campo há meia hora ainda em sentido
para o gesto tão fundo tão volável
infância já da luz dentro do sismo
jornais não censurados no tapete
uma fábula fértil de fogueiras
crepitando onde rola o som da estampa
interior ao rumo à labareda
o desenho final do nosso beijo
na premissa mais livre do meu sangue
(Abril 1974)
In “Só de Amor”
Edições Ática
Olga Gonçalves
(1929-2004)
AS MANHÃS ASSIM PURAS FORMULÁVES
as manhãs assim puras formuláves
por um sopro de amor de outras esferas
as manhãs assim dentro incendiadas
por nomes que da escada fazem guerra
as manhãs assim hora já volátil
junto ao tiro de caça junto ao remo
as manhãs bloqueadas neste lado
pelo trágico limbo do meu gesto
as manhãs assim margens divididas
que me cercam e viram contra o espelho
e depois lentamente me desdobram
as manhãs esticadas na colina
já pressentem a força que tu és
em nocturno e galáxia fabulosa
In “Só de amor”
Editora Ática – 1975
Olga Gonçalves
1929 – 2004
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