O OUTONO…
Soltam-se as folhas, que levadas pela brisa
Já atapetam lentamente todo o chão
Sinal seguro de que se foi o Verão
Espera-se a chuva, que este solo bem precisa
É o Outono a chegar a toda a brida
Já suas águas nem ao longe se divisam
Minguam os dias mas o que as terras precisam
São as chuvadas, ou a safra está perdida
Vai-se despindo o arvoredo da folhagem
E os riachos lentamente vão secando
As trovoadas que por vezes vão rondando
Depressa passam e seguem sua viagem
O tempo esfria, o sol deita-se mais cedo
Toldam os céus as névoas de madrugada
As andorinhas vão partindo em debandada
Vai-se esbatendo o descanso e o folguedo
Volta a rotina, a balbúrdia costumeira
Pra trás ficaram breves tempos de ripanço
Talvez pró ano haja uns dias de descanso
Está de volta a labuta e a canseira
É essa a vida difícil de quem trabalha
Cuja função nunca devem descurar
Há tanta gente à espreita desse lugar
Que preservá-lo é a mais dura batalha
Foi-se o Verão! Com ele partiram sonhos
Voltam os dias mais sombrios, mais cinzentos
Não há mais tempo pra lamúrias, pra lamentos
Nem pra esbanjar com pensamentos tristonhos
In “Alentejano e Poeta"
Augusto Molarinho de Andrade
(N.1948)
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