NOCTURNO
Ao meio do canal submarino
a luz cegante é um anjo.
A suspenção do voo ampara...
Que fluido pelos circulos luminosos parados, correrá?
O sorriso escancarado da esfinge mergulhadora
vai mostrando, distante, a galeria óssea que deita
para as ameias dum castelo
com um deserto sem fim na rectaguarda.
Sentinelas de sangue esperam sempre a
sombra e a morte cobertas de ervas secas.
Na atracção do fundo,
aos pés da escadaria do escuro,
jaz a princesa, de verde, adormecida...
1934
In Revista “Pirâmide”
Nº 3 – Dezembro.1960 – Ano I
Pág. 44
Edmundo de Bettencourt
(1889-1973)
NOCTURNO
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!
In “Sonetos”
Colecção – Autores Portugueses de Ontem
Estante Editora – Maio de 1989
Antero de Quental
1842 – 1891
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