NAUFRÁGIO
Fui enviada para o mar de madrugada.
Ninguém me avisou da melancolia dos peixes
ou da nudez das ondas. Nada me disseram
do silêncio. Sem luz que me escutasse as mãos,
rompi sem preceito alguma da escuridão.
Imperfeitamente.
Vieram, entretanto, outros mares contra o meu.
Cega, fui derrubada. Os peixes morreram-me
de susto. A nudez do resto permaneceu. Todas
as coisas se afundaram no tão fundo da minha
lucidez. Sou tão descabida de mim, agora, que
tudo se parte no meu corpo, devagar.
In "Ecos de Green Rose"
Poética Edições
Virgínia do Carmo
(N.1973)
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