NATAL
Na quadra do Natal
Neste nosso Portugal
Em todo o mundo também
É só amor e carinho
Ajuda-se o pobrezinho
Não se esquece ninguém
Para familiares e amigos
Os novos e os antigos
Dão-se prendas e presentes
Mas esquece-se em seguida
Continua a ser esquecida
As pessoas doentes
É assim em toda a terra
Fazem-se tréguas na guerra
Que acabam no outro dia
Volta o ódio e a vingança
Acabou-se a esperança
Terminou a alegria
Ó quanta hipocrisia
E alguma cobardia
No pensamento humano
Carinho e amor no Natal
Mas depois continua o mal
O resto de todo o ano
Amar como Jesus amou
Sonhar como ele sonhou
Ajudar o nosso irmão
Diga-mos não à guerra
Para que tenhamos paz na terra
Sem sacrifício nem opressão
O Natal deveria ser
E ninguém se esquecer
Todos os dias do ano
Para sempre nos amar
Toda a gente se respeitar
Nisto não há engano
In “União dos Escritores e Artistas
Transmontanos e Altodurienses – UNEARTA”
Revista mensal - N.º 13 - Ano 2 - Janeiro 2003
Norberto Martins
(Poeta popular)
NATAL
Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!
Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, — do fundo
Da miséria que somos.
Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos — não uma vez, mas cada —
Teus assassinos.
À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.
Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.
Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.
Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.
Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.
Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar, — e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa Tudo que lhe ofereces?
Mas, se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!
In “Obra Completa Poesia”
INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda
José Régio **
(1901-1969)
** Pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira
NATAL
Menino Jesus feliz
Que não cresceste
Nestes oitenta anos!
Que não tiveste
Os desenganos
Que eu tive
De ser homem,
E continuas criança
Nos meus versos
De saudade
Do presépio
Em que também nasci,
E onde me vejo sempre igual a ti.”
In “Diário XV”
Coimbra Editora
Miguel Torga **
(1907-1995)
** Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha
NATAL
Ninguém o viu nascer.
Mas todos acreditam
Que nasceu.
É um menino e é Deus.
Na Páscoa vai morrer, já homem,
Porque entretanto cresceu
E recebeu
A missão singular
De carregar a cruz da nossa redenção.
Agora, nos cueiros da imaginação,
Sorri apenas
A quem vem,
Enquanto a Mãe,
Também
Imaginada,
Com ele ao colo,
Se enternece
E enternece
Os corações,
Cúmplice do milagre, que acontece
Todos os anos e em todas as nações.
In “Diários - Volumes XIII a XVI”
Publicações Dom Quixote
Miguel Torga **
(1907-1995)
** Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha
NATAL
Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veiu nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Sciencia a inutil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
In “Contemporanea”
Director – José Pacheco
Redactor Principal – Oliveira Mouta
Editor – Agostinho Fernandes
Ano I – Volume II – Nº.6 Ano 1922
Pág. 88
Fernando Pessoa
1888 – 1935
Mantém a grafia original
NATAL, E NÃO DEZEMBRO
Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.
In “Cancioneiro do Natal”
(Prémio Nacional de Poesia – 1971)
Edições Rolim – 1986
David Mourão-Ferreira
1927 – 1996
NATAL URGENTE
São tantos os Natais que tenho escrito,
Mensagem de Natal p'ra toda a gente!
Que não posso conter este meu grito
De escrever mais este Natal Urgente!...
Sinto estalar-me o peito de amargura,
De tanta imagem triste de Natal!
Domina a violência e a loucura
Neste mundo terrível e brutal!...
Não há paz, só há guerra, fome e dor,
E os homens não se entendem afinal!
Campeia a morte, o medo e o terror,
Num cortejo de sangue crucial!...
O mundo não entende, por maldade,
Que o Natal é – Amor, Fraternidade,
Sempre e em todo o tempo, por igual!...
Que este Natal desperte bem profundo,
E deixem de existir por todo o mundo,
- Assassinos da Paz e do Natal!
Natal de 1992
In “Etéreas Sinfonias de Natal”
Edição do Autor
Castro Reis
1918 – 2007
NATAL
Outro natal,
Outra comprida noite
De consoada
Fria,
Vazia,
Bonita só de ser imaginada.
Que fique dela, ao menos,
Mais um poema breve
Recitado
Pela neve
A cair, ao de leve,
No telhado.
In “Antologia Poética”
Miguel Torga
1907 – 1995
NATAL
Neste caminho cortado
Entre pureza e pecado
Que chamo vida,
Nesta vertigem de altura
Que me absorve e depura
De tanta queda caída,
É que Tu nasces ainda
Como nasceste
Do ventre da Tua mãe.
Bendita a Tua candura.
Bendita a minha também.
Mas se me perco e Te perco,
Quando me afogo no esterco
Do meu destino cumprido,
À hora em que Te rejeito
E sangra e dói no Teu peito
A chaga de eu ter esquecido,
É que Tu jazes por mim
Como jazeste
No colo da Tua mãe.
Bendita a Tua amargura
Bendita a minha também.
In "Livro III" – Poemas de Natal e da Paixão de Cristo
Reinaldo Ferreira
1922 – 1959
NATAL
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
Em letras grandes e pretas,
Traz versos e historietas
E desenhos bonitinhos,
E traz retratos também
Dois bodos, bodos e bodos,
Em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
Mas quando será de todos?
In “Obras Completas do Poeta”
Universitária Editora
Sidónio Muralha
1920 – 1982
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