MULHER
(EM DEFINIÇÃO)
Mulher-Poesia
que deixa no meu corpo bocados de poema
Mulher-Criança
que desce à minha infância
e me traz adulta
Mulher-Inteira
repartida no meu ser
Mulher-Absoluta
Fonte da minha origem
In “Amor no Feminino”
Editora Fora do Texto – 1997
Manuela Amaral
1934 – 1995
MULHER NA NOITE
Ei-la que passa
Com sua magia,
Quebrando na noite,
A monotonia.
Bamboleando atravessa a rua,
Como uma estrela ou como a lua.
Deixa no ar um vago perfume,
Que tudo incendeia
Como se fora lume.
A rua pára ao vê-la passar,
O tempo suspenso
Com o seu andar.
Um carro que freia,
Uma pomba assustou,
Presa pela asa,
Ao beiral que a criou.
Na noite magoada,
Ilusão afastada,
A magia findou…
In “O Livro da Nena” – Fevereiro de 2008
Papiro Editora
Maria Irene Costa
N. 1951
MULHER, VEJO-TE NUA, EMBORA ESCONDAS
Mulher, vejo-te nua, embora escondas,
Sob as tintas de cândida tristeza,
As máculas da sórdida impureza,
A lepra vil das saturnais hediondas.
E contudo, enganando-me, ainda sondas
O mar largo da minha singeleza:
Supões-me, como o doge de Veneza,
Esposo fácil de corruptas ondas!
Não chores a meus pés esmorecida;
Lá mais tarde, nos palcos da cidade,
Farás de Madalena arrependida.
No vício pode haver honestidade:
Deixa-me em paz nas sombras desta vida,
Não me afrontes na minha soledade.
Vinho e Fel
In “Rimas”
Estante Editora – Dezembro.1990
João Penha
1838 – 1919
FELINA MULHER
Eu quisera depois das lutas acabadas,
na paz dos vegetais adormecer um dia
e nunca mais volver da santa letargia,
meu corpo dando pasto às plantas delicadas.
Seria belo ouvir nas moitas perfumadas,
enquanto a mesma seiva em mim também corria,
as sãs vegetações, em intima harmonia,
aos troncos enlaçando as lívidas ossadas!
Ó beleza fatal que há tanto tempo gabo:
se eu volvesse depois feito em jasmins-do-cabo
– gentil metamorfose em que nesta hora penso –
tu, felina mulher, com garras de veludo,
havias de trazer meu espírito, contudo,
envolto muita vez nas dobras do teu lenço!
Guilherme de Azevedo
1839 – 1882
ALIANÇA
Por tudo quanto sei mas não sabia
(Feliz de quem um dia ainda o souber!)
Por essa estrela branca em noite fria!
Anunciação, talvez, de poesia...
Por ti, minha mulher!
Por esse homem que sou, mas que não era,
Vendo na morte a vida que vier!
Por teu sorriso em minha vida austera,
Anunciação, talvez de Primavera...
Por ti, minha mulher!
Pelo caminho humano a que vieste
Com fé no amor. – Seja o que Deus quiser!
Por certa fonte abrindo rocha agreste...
Por esse filho loiro que me deste!
Por ti, minha, mulher!
Pelo perdão que espalho, aos quatro ventos,
De antemão cego ao mal que me trouxer
Despeitos surdos, pérfidos momentos;
Pelos teus passos, junto aos meus, mais lentos...
Por ti, minha mulher!
Nada mais digo. Nada. Que não posso!
Mas dirá mais do que eu quem não disser
Como eu?: - Avé Maria... Padre Nosso...
Por tudo quanto é meu (e que é tão nosso!)
Por ti, minha mulher!
Pedro Homem de Melo
1904 – 1984
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