MILAGRE
O meu futuro fora aquele instante!
(Leve, subtil, a flor buliu na haste...)
O meu futuro fora aquele instante.
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
Com musgo, o pinheiral esteve à espera...
E a flor (tão perto e azul) buliu na haste!
O Inverno do arrabalde? - Primavera!
Com musgo, o pinheiral esteve à espera...
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
Então, o olhar da noite fez-se baço;
E a flor, fria talvez, buliu na haste...
- Desertos, lagos, pântanos, cansaço...
O olhar da noite vítrea fez-se baço!
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
Prazer? Vício? Prisão? Nódoa? Vergonha?
Estrume sob a flor da minha haste...
Prazer? Vício? Prisão? Nódoa? Verginha?
Poesia indomável e medonha!
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
Sangrou demais o meu pecado. Basta!
Buliu demais a flor, dobrando a haste...
Sangrou demais o meu pecado. Basta!
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
O vento varreu toda a noite, ardida
E, com o vento, a flor buliu na haste...
Veio chuva depois. Destino, vida...
E o vento varreu toda a noite ardida!
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
Os homens não me viram e passaram.
E a flor, distante já, buliu na haste...
Os homens não me viram e passaram...
Ó mãos cegas que, um dia, me salvaram!
Eu marquei-te uma hora... E tu, faltaste!
In “Bodas Vermelhas”
Porto Editora – 3.ª edição – 1979
Pedro Homem de Mello
1904 – 1984
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