MEDITAÇÂO
O dia de hoje vem triste.
Eu penso que a terra dorme
Num grande caixão de chumbo;
São as pessoas os vermes,
Que vão roendo,
E as árvores são as flores
Que vão murchando
Sobre o cadáver imenso
Que me parece pequeno.
Também eu durmo este sono
E dormindo
Vou roendo o magro pomo
Que tombou do infinito,
No caixão,
Feito de chumbo e granito.
E roendo
A boca me sabe a mim
- Fica-me um travo de fim
De eternidade.
Neste silêncio,
Grito a minha ambição biológica do aborto
Que quis nascer completo
E veio feto
E torto...
Grito a minha aflição patética do morto
Que quer a tampa do caixão aberta;
Grito a minha surdez-mudez que escuta
A luta do dividendo,
Travada entre os vermes
Que vão roendo!
In “Líricas Portuguesas” - I Volume
Selecção, Prefácios e apresentação de Jorge de Sena
Edições 70 -1984
Políbio Gomes dos Santos
(1911-1939)
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