BALADA DAS VINTE MENINAS
Vinte meninas, não mais,
Eu via ali no beiral:
Tinham cabecinha preta
E branquinho o avental.
Vinte meninas, não mais,
Eu via naquele muro:
Tinham cabecinha preta,
Vestidinho azul-escuro.
As minhas vinte meninas,
Capinhas dizendo adeus,
Chegaram na Primavera
E acenaram lá dos céus.
As minhas vinte meninas
Dormiam quentes num ninho
Feito de amor e de terra,
Feito de lama e carinho.
As minhas vinte meninas
Para o almoço e o jantar
Tinham coisas pequeninas,
Que apanhavam pelo ar.
Já passou a Primavera
Suas horas pequeninas:
E houve um milagre nos ninhos.
Pois foram mães, as meninas!
Eram ovos redondinhos
Que apetecia beijar:
Ovos que continham vidas
E asinhas para voar.
Já não são vinte meninas
Que a luz do Sol acalenta.
São muitas mais! muitas mais!
Não são vinte, são oitenta!
Depois oitenta meninas
Eu via ali no beiral:
Tinham cabecinha preta
E branquinho o avental.
Mas as oitenta meninas,
Capinhas dizendo adeus,
Em certo dia de Outono
Perderam-se pelos céus.
In “Verso Aqui Verso Acolá” (organização de Natércia Rocha)
Matilde Rosa Araújo
N. 1921
LOAS À CHUVA E AO VENTO
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue... Pingue... Pingue...
Vu... Vu...Vu...
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue... Pingue... Pingue...
Vu... Vu...Vu...
Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue... Pingue...
Vu... Vu…
Muito de mansinho
Em meu coração
Já não tenho lenha
Nem tenho carvão...
Pingue... Pingue...
Vu... Vu…
Que canto tão frio,
Que canto tão terno,
O canto da água,
O canto do Inverno...
Pingue...
Que triste lamento,
Embora tão terno,
O canto do vento
O canto do Inverno...
Vu...
E os pássaros cantam
E as nuvens levantam.
In “O Livro da Tila”
Matilde Rosa Araújo,
HISTÓRIA DO SR. MAR
Deixa contar...
Era uma vez
O senhor Mar
Com uma onda...
Com muita onda...
E depois?
E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...
A menina adormeceu
Nos braços da sua Mãe...
In “O Livro da Tila”
Matilde Rosa Araújo
N. 1921
CAIXINHA DE MÚSICA
Grilo, grilarim,
Tens um canto azul
Na noite de cetim!
Cigarra, cigarraia,
Tens um canto branco
No dia de cambraia!
Formiga, miga, miga,
Só tu cantas os nadas
Do silêncio do Sol,
Das estrelas caladas...
In "O Livro da Tila"
Matilde Rosa Araújo
N. – 1921
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