SÃO AS PALAVRAS
São secretas
as palavras que não olho
ou países secretos que não penso
São os corpos macios
do pensamento
ou piscinas profundas de seu vento
São secretas
cansadas
são de estanho
de saliva contorno
são sedentas
São os seios
os seixos
e os anseios
o secreto daquilo
que desvendo
In "Poesia Completa - II"
Maria Teresa Horta
(N.1937)
SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche
o anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
In “Minha Senhora de Mim”
Publicações Dom Quixote
Maria Teresa Horta
(N.1937)
OS TEUS OLHOS
Direi verde
do verde dos teus olhos
de um rugoso mais verde
e mais sedento
Daquele não só íntimo
ou só verde
daquele mais macio mais ave
ou vento
Direi vácuo
volume
direi vidro
Direi dos olhos verdes
os teus olhos
e do verde dos teus olhos direi vício
Voragem mais veloz
mais verde
ou vinco
voragem mais crispada
ou precipício
In “Candelabro”
Guimarães Editores
Maria Teresa Horta
(N.1937)
DESAVINDA
Desordenada comigo
oponho o corpo ao destino
como quem veste o vestido
e o despe em desatino
Desavinda com o sossego
ponho a nudez onde acendo
o grito do meu prazer
que ora prendo ora desvendo
In "Poesia Reunida"
Publicações Dom Quixote - 2009
Maria Teresa Horta
(N. 1937)
JOELHO
Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas
In “Só de Amor”
Quetzal Editores -1999
Maria Teresa Horta
N. 1937
ABRIGO
Abrigo-me de ti
de mim não sei
há dias em que fujo
e que me evado
há horas em que a raiva
não sequei
nem a inveja rasguei
ou a desfaço
Há dias em que nego
e outros onde nasço
há dias só de fogo
e outros tão rasgados
Aqueles onde habito com tantos
dias vagos.
In “Minha Senhora de Mim”
Editorial Futura – 1974
Maria Teresa Horta
N. 1937
EGOÍSMO
Que me importa
amor
que seja dia
ou que seja noite iluminada
Que me importa
amor
que seja a chuva
ou um novelo de paz a madrugada
Que me importa
amor
que seja o vento
ou a flor o fogo mais aceso
Que me importa
amor
que seja a raiva
Que me importa
amor
que seja o medo
In “Minha Senhora de Mim”
Editorial Futura – 1974
Maria Teresa Horta
N. 1937
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