O MENINO E A FLOR
Era uma vez um menino
Era uma vez o papão
Era uma vez milhões de homens
cobertos de maldição...
Medalhas de oiro
foguetes
bandeirinhas de mil cores
flores de papel aos centos
diplomas e honrarias
tronos penas de pavão
homenagens monumentos
discursos
desfalques
roubos
assassinatos
infâmias
ah! negreiros do meu tempo
traficantes e falsário
permitam o céu às aves
deixem crescer o menino
com uma flor no coração!
Era uma vez um menino
Era uma vez o papão
Era uma vez milhões de homens
cobertos de maldição...
A mentira anda na rua
passeia na praça pública
puxa os cabelos às moças
faz caretas
piruetas
e trejeitos
grita
cospe nas estrelas
rasga o menino
e arranca dele uma flor
que pisa a pés que desfaz!
Senhores polícias
não deixem
violar um coração
algemem a violadora
apanhem a flor do chão!
Era uma vez um menino
Era uma vez o papão
Era uma vez milhões de homens
cobertos de maldição...
In “Antologia da Poesia Feminina Portuguesa”
Organizada por António Salvado
Edições JF (Jornal do Fundão)
Maria Almira Medina
(1920-2016)
O MENINO E A FLOR
Era uma vez um menino
Era uma vez o papão
Era uma vez milhões de homens
cobertos de maldição...
Medalhas de oiro
foguetes
bandeirinhas de mil cores
flores de papel aos centos
diplomas e honrarias
tronos penas de pavão
homenagens monumentos
discursos
desfalques
roubos
assassinatos
infâmias
ah! negreiros do meu tempo
traficantes e falsário
permitam o céu às aves
deixem crescer o menino
com uma flor no coração!
Era uma vez um menino
Era uma vez o papão
Era uma vez milhões de homens
cobertos de maldição...
A mentira anda na rua
passeia na praça pública
puxa os cabelos às moças
faz caretas
piruetas
e trejeitos
grita
cospe nas estrelas
rasga o menino
e arranca dele uma flor
que pisa a pés que desfaz!
Senhores polícias
não deixem
violar um coração
algemem a violadora
apanhem a flor do chão!
Era uma vez um menino
Era uma vez o papão
Era uma vez milhões de homens
cobertos de maldição...
In “Antologia da Poesia Feminina Portuguesa”
Edições do Jornal do Fundão
Maria Almira Medina
N. 1920
QUANDO EU FOR GRANDE
Ó mãe,
Quando for grande.
Hei-de agarrar aquela estrela além,
A mais pequenina,
Que treme de medo por cima do Forte
De Santa Catarina;
Tadinha da estrela, ó mãe!...
Faz-lhe medo o mar,
Sempre a ralhar, sempre a ralhar...
Quando for grande,
Hei-de pedir às ondas barulhentas
Que batam devagar,
Devagarinho,
Devagarinho como a tua voz
A adormecer o teu menino...
Olha, vê,
Não chego à estrela, não.
Sou pequenino;
Quando for grande,
(Amanhã já vou grande, mãe?...),
Vou ao barquito do «Pereirão» de Buarcos,
E bato no mar
Até ele chorar...
E a estrela, sem medo,
Há-de deixar-se agarrar,
Porque eu sou grande,
Bati no mar!...
Quando fores rezar
Á capela do Forte
Hei-de ir de mansinho,
Mais de mansinho que as ondas a chorar,
E ponho a estrela pequenina
No teu cabelo...
Hás-de parecer Santa Catarina,
Inda mais linda!...
Depois fujo a buscar mais estrelinhas
Medrosas
E atiro-as às redes dos pescadores pobrinhos,
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Tás a chorar?!...
Aquela estrela não é linda se calhar...
Deixa lá, mãezinha;
Quando for grande,
Levo-te ao céu e escolhes uma maiorzinha...
(Amanhã já sou grande, mãe?...).
In “Leituras” – (Segundo Tomo) – 1.ª Edição
Maria Almira Medina
N. 1920
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