SONETO IX
Arreitada donzela em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras subtis pachacho estreito;
De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:
A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:
Como é linda boçal, perde os sentidos:
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.
In “Poesias, eróticas, burlescas e satíricas”
Colecção Clássicos do Erotismo
Editora Escriba – 1969
Manuel Maria de Barbosa du Bocage
1765 – 1805
TRIBUTO EM AIS NO CORAÇÃO GERADOS
Tributo em ais, no coração gerados
Não dês à cara cinza, aflito Espôso;
Roçam da Vida o circulo afanoso
Caminhos florescentes, e estrelados.
Espiritos gentis, por Jove amados,
Volvendo a seu princípio luminoso,
Olham Sol não crestante, e mais formoso,
Vagueiam sem temor por entre os Fados.
Com alta fantasia, e rosto enxuto,
Vê nos Eliseos a imortal consorte.
Vê da Virtude a flor tornar-se em fruto.
Doce, augusta verdade Amor conforte;
Em vós, ó ímpios, a existência é luto,
E nos eleitos um sorriso a Morte.
In "Clássicos Portugueses – Trechos Escolhidos”
Século XVIII – Poesia – Bocage – Sonetos
Introdução, selecção e notas de Vitorino Nemésio
Liv. Clássica Editora – Lisboa – 1943
Manuel Maria de Barbosa du Bocage
1765 – 1805
LIBERDADE, ONDE ESTÁS?...
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh! Venha… Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!
In "Clássicos Portugueses – Trechos Escolhidos – Sonetos"
Liv. Clássica Editora – Lisboa – 1961
Manuel Maria de Barbosa du Bocage
1765 – 1805
Númem: Divindade, Deus
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Manuel Mari...
. Recordando... Manuel Mari...
. Recordando... Manuel Mari...