Segunda-feira, 25 de Março de 2019

Recordando... Manuel da Fonseca

MENINO

 

No colo da mãe

a criança vai e vem

vem e vai

balança.

Nos olhos do pai

nos olhos da mãe

vem e vai

vai e vem

a esperança.

 

Ao sonhado

futuro

sorri a mãe

sorri o pai.

Maravilhado

o rosto puro

da criança

vai e vem

vem e vai

balança.

 

De seio a seio

a criança

em seu vogar

ao meio

do colo-berço

balança.

 

Balança

como o rimar

de um verso

de esperança.

 

Depois quando

com o tempo

a criança

vem crescendo

vai a esperança

minguando.

E ao acabar-se de vez

fica a exacta medida

da vida

de um português.

 

Criança

portuguesa

da esperança

na vida

faz certeza

conseguida.

Só nossa vontade

alcança

da esperança

humana realidade.

 

In “Poemas para Adriano”

 

Manuel da Fonseca

(1911-1993)

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Sábado, 31 de Março de 2018

Recordando... Manuel da Fonseca

SEGUNDO DOS POEMAS DA INFÂNCIA

 

Quando foi que demorei os olhos

sobre os seios nascendo debaixo das blusas,

das raparigas que vinham, à tarde, brincar comigo?...

... Como nasci poeta,

devia ter sido muito antes que as mães se apercebessem disso

e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.

Quando, não sei ao certo.

 

Mas a história dos peitos, debaixo das blusas,

foi um grande mistério.

Tão grande

que eu corria até ao cansaço.

E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar,

como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava,

sem razão aparente,

rapazes muito mais velhos e fortes!

E uma vez,

de cima de um telhado,

joguei uma pedrada tão certeira,

que levou o chapéu do senhor administrador!

Em toda a vila,

se falou, logo, num caso de política;

o senhor administrador

mandou vir, da cidade, uma pistola,

que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;

e os do partido contrário,

deixaram crescer o musgo nos telhados

com medo daquela raiva de tiros para o céu...

 

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!

 

In “Obra Poética”

Editorial Caminho

 

Manuel da Fonseca

(1911-1993)

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Domingo, 19 de Abril de 2015

Recordando... Manuel da Fonseca

DONA ABASTANÇA

 

«A caridade é amor»

Proclama dona Abastança

Esposa do comendador

Senhor da alta finança.

 

Família necessitada

A boa senhora acode

Pouco a uns a outros nada

«Dar a todos não se pode.»

 

Já se deixa ver

Que não pode ser

Quem

O que tem

Dá a pedir vem.

 

O bem da bolsa lhes sai

E sai caro fazer o bem

Ela dá ele subtrai

Fazem como lhes convém

Ela aos pobres dá uns cobres

Ele incansável lá vai

Com o que tira a quem não tem

Fazendo mais e mais pobres.

 

Já se deixa ver

Que não pode ser

Dar

Sem ter

E ter sem tirar.

 

Todo o que milhões furtou

Sempre ao bem-fazer foi dado

Pouco custa a quem roubou

Dar pouco a quem foi roubado.

 

Oh engano sempre novo

De tão estranha caridade

Feita com dinheiro do povo

Ao povo desta cidade.

 

Poemas para Adriano

 

In "Poemas Completos"

Editora Caminho

 

Manuel da Fonseca

(1911-1993)

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Segunda-feira, 31 de Março de 2014

Recordando... Manuel da Fonseca

NOITE DE SONHOS VOADA

 

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

 

“Poemas Dispersos”

 

In "Poemas Completos"
Editora Caminho

 

Manuel da Fonseca

1911 – 1993  

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