Terça-feira, 13 de Setembro de 2022

Recordando... João Apolinário

MÃE

 

Sei que mordia

nas horas doces

os doces seios

onde crescia.

 

Sei que exigia

meu chão de terra

a terra dura

onde corria.

 

Sei que fazia

coisas desfeitas

desfeitas coisas

que não devia.

 

Sei que esquecia

portas abertas

abertas portas

das quais saía.

 

Sei que queria

sabendo querer

querendo saber

sei que sabia.

 

In "O Poeta Descalço"

Editorial Fronteira

 

João Apolinário

(1924-1988)

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Terça-feira, 1 de Outubro de 2019

Recordando... António Correia de Oliveira

MÃE

 

Olha, meu filho! quando, à aragem fria

De algum torvo crepúsculo, encontrares

Uma árvore velhinha, em modo e em ares

De abandono e outonal melancolia,

 

Não passes junto dela nesse dia

E nessa hora de bênçãos, sem parares;

Não vás, sem longamente a contemplares:

Vida cansada, trémula e sombria!

 

Já foi nova e floriu entre esplendores:

Talvez em derredor, dos seus amores

Inda haja filhos que lhe queiram bem...

 

Ama-a, respeita-a, ampara-a na velhice;

Sorri-lhe com bondade e com meiguice:

– Lembre-te, ao vê-la, a tua própria Mãe!

 

In “Antologia Poética”

 

António Correia de Oliveira

(1879-1960)

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Sábado, 1 de Novembro de 2014

Recordando... Maria do Rosário Pedreira

MÃE, EU QUERO IR-ME EMBORA

 

Mãe, eu quero ir-me embora - a vida não é nada

daquilo que disseste quando os meus seios começaram

a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,

murcharam tão depressa as rosas que me deram –

se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu

deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

 

Mãe, eu quero ir-me embora - os meus sonhos estão

cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,

só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais

que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos

os sonhos que tiveste para mim - tenho a casa vazia,

deitei-me com mais homens do que aqueles que amei

e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

 

Mãe, eu quero ir-me embora - nenhum sorriso abre

caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.

Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez

não chames pelo meu nome, não me peças que fique –

as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-m

embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue

de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como

uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

 

Mãe, eu vou-me embora - esperei a vida inteira por quem

nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta

hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.

Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas

essa voz, tu sabes, não é a tua - a última canção sobre

o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias

foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão

tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam

virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.

 

In 'O Canto do Vento nos Ciprestes'

Editora Gótica

 

Maria do Rosário Pedreira

N.1959

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Domingo, 5 de Fevereiro de 2012

Recordando... Miguel Torga

MÃE

 

Mãe:

Que desgraça na vida aconteceu,

Que ficaste insensível e gelada?

Que todo o teu perfil se endureceu

Numa linha severa e desenhada?

 

Como as estátuas, que são gente nossa

Cansada de palavras e ternura,

Assim tu me pareces no teu leito.

Presença cinzelada em pedra dura,

Que não tem coração dentro do peito.

 

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.

Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.

Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes

Por detrás do terror deste vazio.

 

Mãe:

Abre os olhos ao menos, diz que sim!

Diz que me vês ainda, que me queres.

Que és a eterna mulher entre as mulheres.

Que nem a morte te afastou de mim!

 

In “Diário IV”

Editora Coimbra

 

Miguel Torga *

1907 – 1995

 

 

* Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha

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Segunda-feira, 4 de Janeiro de 2010

Recordando... Antero Quental... Poeta do Séc. XIX

 MÃE…

 

 Mãe – que adormente este viver dorido,
 E me vele esta noite de tal frio,
 E com as mãos piedosas até o fio
 Do meu pobre existir, meio partido…

 Que me leve consigo, adormecido,
 Ao passar pelo sítio mais sombrio…
 Me banhe e lave a alma lá no rio
 Da clara luz do seu olhar querido…

 Eu dava o meu orgulho de homem – dava
 Minha estéril ciência, sem receio,
 E em débil criancinha me tornava,

 Descuidada, feliz, dócil também,
 Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
 Se tu fosses, querida, a minha mãe!

 

 

In “Sonetos Completos”

Publicações Anagrama – Maio.1980

 

Antero Quental

1842 – 1891

 

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Quinta-feira, 28 de Maio de 2009

Recordando... Ferreira da Costa

MINHA MÃE

 

Rosa, flor do coração,

de sete amores em botão

quinze rebentos brotaram;

entre eles, oito floriram,

catorze botões surgiram,

novas Rosas germinaram.

Quantas mais tu irás ver?...

Mais botões irão nascer

das Rosas, da lei da vida;

noventa pétalas, Rosa,

do jardim és flor ditosa

dos botões, Rosa querida.

Neste dia, nossa mãe

que noventa anos tem

sobre a luz dos olhos seus;

tem a sorte de ver flores,

essência de seus amores,

prendas da vida, de Deus.

Mãe! Estás de parabéns,

uma grande herança tens

neste jardim de verdade;

Deus te dê muita saúde,

paz, amor, a plenitude,

da sublime felicidade.

 

24/04/2007

 

In “Triângulos Poéticos I”

1ª. Edição – Abril de 2008

artEscrita Editora

 

Ferreira da Costa

N. 1945

 

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Sábado, 16 de Maio de 2009

Recordando... Deolinda Reis

MÃE…

 

Hoje em ti pensei,

longe do murmúrio,

da existência do meu ser

que em ti deixei

quando decidi nascer.

 

Hoje parei para reflectir

nessa tua imagem de mulher,

quedada ao ver-me sorrir,

numa etapa de vida qualquer,

incentivando-me a seguir.

 

És o tesouro qu’em mim guardei

e que sempre irei recordar.

Irás em mim permanecer

porque me vais acompanhar

para nunca me perder,

 

porque em minhas quedas de criança

amparaste-me com determinação,

orientaste estes meus passos,

agarrando sempre a minha mão.

 

 

In “No Silêncio das Palavras”

1ª Edição – Setembro.2007

artEscrita Editora, Lda.

 

Deolinda Reis

N. 1964

 

 

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Terça-feira, 12 de Maio de 2009

Recordando... Eugénio de Andrade

POEMA À MÂE

 

No mais fundo de ti
eu sei que te traí, mãe.

 

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

 

Tudo porque ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

 

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

 

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

 

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

 

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

 

Olha – queres ouvir-me? –
às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

 

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

 

Ainda oiço a tua voz:
           
Era uma vez uma princesa
           No meio do laranjal...

 

Mas – tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

 

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

 

Boa noite. Eu vou com as aves.

 

 

In "Antologia Breve "

5ª. Edição – Outubro 1985

Editora Limiar

 

Eugénio de Andrade

1923 – 2005

 

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Sexta-feira, 8 de Maio de 2009

Recordando... Isabel Seixas

MÃE MENINA

 

Ouvi chamar-te mãe

Olhei incrédula

Ouvi dizer filho vem

Fiquei de pedra

 

Teus olhos brilhantes

Tez de porcelana

Expressões adolescentes

Olhar de quem ama

 

Levas pela mão

Esse filho irmão

De tão tenra idade

És sensibilidade

 

Mãe menina

Quem é que destina

Essa tua sorte

Quem te denomina

Mãe sem te dar o porte

 

Mãe menina

Quem te leu a sina

E te deu o mote

Para esta rima

A de Mãe precoce

 

Mãe menina menina Mãe

Tu que dás teu colo

Para consolo

Precisas também

De um colo de alguém

 

 

In “Resquícios de Luz”

Colecção Sinais de Poesia

Edição de Formasau – Coimbra

 

Isabel Seixas

N. 1961

 

 

 

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Domingo, 6 de Maio de 2007

PARA A MINHA E PARA TODAS AS MÃES DO MUNDO...

 

MÃE

 

 

 

Mãe, Mãe!

Inclina-te para mim

e deixa-me beijar

o teu rosto.

Saltar ao teu pescoço

e enlear-te

num abraço apertado.

 

Permite que meus lábios

digam alegremente

o que me vai na alma

em confissão veemente:

 

Mãe, Mãe!

Tu és todo o meu ser

a sombra amiga

que me ampara e guia

e que me faz viver!...

 

 

 

 

Irene Lourenço Martins

In Fátima Missionária

 

 

 

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