LOUCURA
Que importa que venhas, que passes agora?
Não quero saber…
E os olhos procuram, há mais de uma hora,
o bem de te ver!...
Os olhos tão tristes, famintos, coitados!...
– Porque é que não vens?
Também que interessa? Dos dias passados,
lembranças não tens!...
– Nem eu, estou certa. Se é só fantasia
que tudo isto encerra…
Jurei: Hás de ver-me mais dura e mais fria
que as pedras da serra:
Desprezo, verás, teu olhar perturbante.
Deixo de ser eu,
se em tua presença não fôr mais distante
que a estrêla do Céu!...
Ver-te! Para quê? Se saudades não tenho,
nem vens por aqui.
Mas lá porque eu venho, e não sei porque venho,
não fôra por ti.
Lembrar que me lembras, meu Deus, que pavor!
– Mas isso que tem?
Não tenho, não tens, se não temos amor,
está muito bem:
Não se perde nada, nem, dor, és cabida;
mentiras não contam.
Verdades são luzes e as luzes dão vida
assim que despontam.
O mundo prossegue na vida galharda;
o Sol está certo.
Há música, há risos, há homens em barda,
e eu… vejo um deserto!
Pensar que te esqueço tornou-se mania,
pareço uma louca!
Se trago, coitada, de noite e de dia
teu nome na bôca!...
In “Sinfonia da Terra” – 1943
Livraria Editora Educação Nacional – Porto
Isaura Matias de Andrade
1908
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