Ó TU, QUE VENS DO FUNDO DA NOITE!
Quis gritar
e o grito morreu numa floresta de sonho.
Quis cantar
e a voz ficou-se no espaço
onde um pássaro voava
(não era azul, nem cinzento, nem verde)
era da cor do pensamento
que é mais vasto do que o espaço,
que é mais vasto do que tudo.
Quis chorar
e nas montanhas
das pedras nasceram homens, dos homens nasceram uivos...
e sem gritos, sem Cantos, sem choros
eu encontrei-te, o tu,
que vens do fundo da noite...
In “Poemas da Hora Presente”
Lília da Fonseca
(1916-1991)
CÂNTICO AO AMANHECER
Eu já não sou aquele frágil ser
que morria de angústia e desespero
por ir vogando, vogando sem rumo,
vogando, vogando na corrente da vida
para a morte…
Chocada,
magoada,
sensitiva…
Que formosura na sombra do mundo amanheceu,
que perfume de primavera estua nos caminhos,
que tudo se transforma
e acorda em sobressalto!
Eu dei as minhas mãos às mãos que vi estendidas,
juntei a minha voz ao cântico do amanhecer,
que reboa comovidamente
pleno de esperança e juventude,
e confundi meu coração
com os de todos os irmãos da minha humanidade.
E o frágil ser,
Chocado, magoado, sensitivo,
Morreu…
E só então pude exclamar:
Vida, vida, como eu te atraiçoava,
esperando tudo de ti
sem nada de mim te dar!
Na sombra do mundo estua a primavera
como sinal de um cântico que amanheceu!
In “Poemas da Hora Presente”
Lília da Fonseca
(1916-1991)
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