ENTREI NO CAFÉ COM UM RIO NA ALGIBEIRA
Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...
A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
– onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
In “Poesia III”
Portugália Editora
José Gomes Ferreira
(1900-1985)
DE SÚBITO
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atavessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempe-Tanto-Se-Recata
ficou nua,
sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
In "Eros de Passagem, Poesia Erótica Contemporânea"
Selecção e prefácio de Eugénio de Andrade
Ed. Campo das Letras - 1997
José Gomes Ferreira
(1900 - 1985)
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