O VENTO LESTE
O vento leste soprou desabrido
sob o nítido Sol em céu imaculado.
Sobre pedras duras, entre casas altas
mosqueadas pelas injúrias de acrescentados anos,
o Caminhante faz por esquecer as próprias dores
com a esperança de um feliz encontro e,
estranhamente,
quanto mais intensa a dor
mais eficazmente lha mitiga
a esperança.
In “Quaresma Abreviada”
Black Sun Editores
José Blanc de Portugal
1914 – 2000
CAMÕES
Passaste fome,
Dizem alguns que de tua vida comem
Vermes parasitas que vivem de inventar as tuas histórias...
Talvez um dia neles a mutação se opere
Quando os bichos mudem de alimentação e
Passem a roer a tua obra
E não a tua morta vida terreal.
Ah Camões! Luís Vaz, se visses
Como os vermes pastam tua glória!
Por um que ame apenas tua obra
Quantos te inventam a vida passada
P'ra explicar versos que não sentem
Ou sentem tão à epiderme
Que precisam de outra história
Que não a das palavras que escreveste!
Também eu li demais a tua inventada vida:
Tudo quero esquecer p'ra mais lembrar
Que poesia é só a tua glória
Eterna vida é só tua Poesia
E a vida que viveste é morta história.
In “Descompasso”
Moraes Editores – 1986
José Blanc de Portugal
1914 – 2000
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