DOIS AMANTES, O MUNDO
dois amantes, o mundo
cada um no seu reino, beijam-se nas praias
quando as ondas batem as areias
o mar é o meu navio,
hoje naufrago feliz
sabes quem sou, as dunas
que se levantam com o vento são
os sonhos do amor que dormita
em sossego nas praias
a terra és tu o mar sou eu
In "A Palavra no Cimo das Águas"
Editora Campo das Letras
Jorge Reis-Sá
N. 1977
PAI, A MINHA SOMBRA ÉS TU
a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma
e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida
o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face
pai, digo-te
a minha sombra és tu
In “A Palavra no Cimo das Águas”
Colecção Campo da Poesia
Campo das Letras – Lisboa – 2000
Jorge Reis-Sá
N. 1977
SABES, PAI
sabes, pai
o cachecol béje nos muros da foz
cobria as árvores com o seu pêlo, ao vento
o boné azul, marinheiro nos cabelos louros
sussurrava pequenas frases às silentes águas
o teu sorriso tão leve, enternecia o rosto
esses óculos, teu cabelo nas tardes de sol
ou o barco encalhado na areia breve
junto ao castelo onde nos passeávamos
eu tu a mãe, duas ou três falas e o meu corpo
que se chegava a vós junto à estrada
nestes muros da foz, abertos ao mar
que voava
In “A Palavra no Cimo das Águas”
Colecção Campo da Poesia
Campo das Letras – Lisboa – 2000
Jorge Reis-Sá
N. 1977
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