FAZER AMOR É SEMPRE TÃO COMPLEXO
Fazer amor é sempre tão complexo
e tão simples também que às vezes pasmo
dos traumas que alguns têm com o sexo
e dos que não tiveram um orgasmo.
Não sabem o que perdem uns e outros
e o que fazem, enfim, é perder tempo.
Acordam vivos, vivem quase mortos
como troncos sem seiva e sem rebentos.
Ajuda-os, Senhor, nessa agonia,
ajuda-os a pôr a escrita em dia,
que a ponta não lhes ceda nem se mude.
Já que falo contigo, meu Senhor,
ajuda-me hoje à noite no amor
que ontem não fiz mais porque não pude.
In “Sonetos Eróticos & Irónicos & Satíricos & De Amor
& Desamor & De Bem & De Maldizer Do Poeta”
Litexa Editora
Joaquim Pessoa
(N.1948)
AMEI DEMAIS
Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.
Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber porque embarquei.
Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos que passei
à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.
In " Ano Comum"
Litexa Editora
Joaquim Pessoa
(N. 1948)
ARREBANHAI O RISO E FAZEI TROÇA
Arrebanhai o riso e fazei troça
da nova situação que não é nova.
Poupai tempo fazendo vista grossa,
utilizando um pau e uma ova
Tranquilos, nem o cão nem a manada.
Embebeda-se o galo na janela
espichando o azul da madrugada
com medo ao facalhão e à panela.
Gemendo de prazer na bebedeira
o capão arremete à capoeira
e põe a galinhagem de esperanças.
Que Deus o abençoe, meu caro amigo,
mas tire-me esse galo do postigo
que não dá bons exemplos às crianças.
In “Sonetos Perversos”
Litexa Portugal
Joaquim Pessoa
N. 1948
UM DIA DIFERENTE
Amanhã
quando nascer um hino de alegria
em todos os olhares
de todas as crianças
quando o meu sangue vermelho
e a minha boca vermelha
se transformarem
e quando amadurecerem nos meus braços
as espigas dos meus dedos
e os homens finalmente se encontrarem
e se chamarem de novo irmãos
e quando houver em cada pensamento
a raiz futura de um poema
e uma verdade pura em cada beijo
e em cada beijo uma canção de paz
amanhã
meu amor minha pátria meu poema
cantaremos a cada aurora
um dia diferente.
In “O Pássaro no Espelho”
Moraes Editores – 1975
Joaquim Pessoa
N. 1948
QUEM
Quem empunhou o machado
e cortou a flor de lume?
Quem fez o estranho noivado
das estrelas com o estrume?
Quem nada na maré falsa
com braços de maré cheia?
Quem quer a fome descalça
por causa de um pé de meia?
Quem traz a vida aos soluços
no gume de uma navalha?
Quem põe um homem de bruços
por dá cá aquela palha?
Quem da vida faz um fardo
e da mentira o exemplo?
Quem da rosa faz um cardo
no altar do nosso templo?
Quem é que se diz profeta
e é traidor na sua terra?
Quem é que fez da caneta
uma arma em pé de guerra?
Quem é que vende o meu povo
por interesse nacional?
Quem fez de Colombo um ovo
e descobriu Portugal?
Quem pretende que eu me cale
porque a poesia é perigosa?
Quem é que quer afinal
uma canção cor-de-rosa?
In "125 Poemas – Antologia Poética"
Litexa Editora – Lisboa
Joaquim Pessoa
N. 1948
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