REGRESSO
Em cada canto revejo a minha infância...
outras rosas iguais a estas rosas,
nenhuma tinha o perfume da lembrança
que estas rosas têm,
estas rosas colhidas no jardim distante
- os ponteiros parados do relógio da torre
que hora marcam?
Passou o tempo
ou é o emigrante que volta quem mudou?
Tudo me sabe ainda ao que deixei,
ou quero que me saiba porque sei
a recordação do que era?...
Em cada canto me encontro como fui
- como sou, estrangeiro na minha casa,
ninguém, nem eu, me reconhece agora.
In “Líricas Portuguesas” - I Volume
Selecção, Prefácios e apresentação de Jorge de Sena
Edições 70 -1984
Joaquim Namorado
(1914-1986)
LIBERDADE
Quem marca uma fronteira
àquela nuvem
a asa que é a sua sombra
onde mora?
Sob as mordaças
calam-se as palavras
mas ninguém te cala
pensamento.
Quem manda à semente
não germines
ao fruto dela
que o não seja?
Amarram-se os pulsos
com algemas
mas ninguém te amarra
pensamento.
Quem impõe ao dia
que não nasça
ao sol que é a sua fonte
que não brilhe?
Fecham-se as janelas
com tapumes
mas ninguém te cega
pensamento.
Quem diz ao amor
é impossível
à lembrança que é seu laço
que o não seja?
Separam-se os amantes
na distância
ninguém te roubará
meu pensamento.
In “A Poesia Necessária”
Vértice – Coimbra
Joaquim Namorado
1914 – 1986
CANTAR DE AMIGO
Eu e tu: milhões!…
Entre nós – perto ou longe!
– entre nós rios e mares
montanhas e cordilheiras…
Eu e tu perdidos
nesta distância sem fim do desconhecido.
Eu e tu unidos
para além das cordilheiras
por sobre mares de diferença
na comunhão de nossos destinos confundidos
– a minha e a tua vida
correndo para a confluência
num mesmo Norte.
Eu e tu amassados
nesta angústia que é de nós,
minha e tua,
e mais do que de nós…
Eu e tu
carne do mesmo corpo
amor do mesmo amor
sangue do mesmo sacrifício!
Eu e tu
elos da mesma cadeia
grãos da mesma seara
pedras da mesma muralha!
Eu e tu, que não sei quem és.
Que não sabes quem sou:
– Eu e tu: Amigo! Milhões…
In “Antologia de Poetas Alentejanos”
Edição da C. M. de Vila Viçosa
Joaquim Namorado
1914 – 1986
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