DE BRUÇOS ME DEBRUÇO MAIS AINDA
De bruços me debruço mais ainda
até sentir os olhos tumefactos
para saber até que ponto é linda
a intrigante cor desses sapatos
que às tuas pernas dão um brilho tal
e uma leveza tal ao teu andar,
que eu penso (embora aches anormal)
que nunca te devias descalçar.
Também porquê, se já não há verdura
nem tu és Leonor para correr
descalça, no poema, à aventura?
O mais difícil, hoje, é antever
quem é que vai à fonte em literatura
e que água dá aos versos a beber.
In “Cem Sonetos Portugueses”
(Selecção, organização e introdução de
José Fanha e José Jorge Letria)
Terramar Editores
Joaquim Pessoa
N. 1948
MEU AMOR QUE EU NÃO SEI
Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.
Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:
O nosso amor é sangue. É seiva. E sol. E primavera.
Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.
O nosso amor é uma arma. E uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.
O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa,
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.
Deixa-me soltar estas palavras amarradas
Para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.
In "Amor Combate"
Joaquim Pessoa
N. 1948
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