SENSAÇÕES DESCONHECIDAS
Há tanta sensação que não conheço,
tanto vibrar de nervos que não sinto;
e, contudo, parece que os pressinto,
apesar de ver bem que os desconheço.
A sensação que tem, à noite, o ar,
Quando o orvalho o toca, em beijos de água
é, porventura, irmã daquela mágoa
que sente, quando chora, o meu olhar?!
Tem, porventura, alguma semelhança
a sensação de um cravo numa trança
com a ânsia de quem morre afogado?
E fico-me a pensar: que sentirá
uma vidraça quando o Sol lhe dá
e a rasga a mão da luz, de lado a lado?...
In “A Circulatura do Quadrado”
Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa,
Edições Unicepe 2004
João Lúcio
(1880-1918)
TARDE DE LEITE E ROSAS
Tarde de leite e rosas. Cada aresta,
Tinha um rubi tremente:
Fomos ouvir o canto da floresta,
O seu canto de amor, ao sol poente.
Tu querias sorver os poderosos
Lamentos de saudade e comoção
Que, as raízes, dos fundos tenebrosos,
Mandavam, pelo ramo, pra o clarão.
Opalescera já, o ar. O vento,
Correndo atrás da sombra, murmurou...
Sentiu-se um fechar de asas. Num momento,
A floresta, cantou.
Em cada ramo, um violino havia:
Cada folha vibrava, ágil, sonora,
Par'cendo que escondia uma harmonia,
Nas sombras das ramagens, a Aurora.
Como a floresta, meu amor, eu tento,
Atirar o meu canto para a altura:
Para a fazer cantar, toca-lhe o vento,
Pra me fazer cantar, no pensamento,
Passa o sopro da tua formosura.
In “Na Asa do Sonho”
João Lúcio
(1880-1918)
. Mais poesia em
. Eu li...