DENTRO DA PEDRA
Cedo ao rastro de restos que
me tenta até ti
(pernas de nylon vazias
sapatos
desafogados)
metades desirmanadas que
arrumo no poema. Posso
disturbar
o teu espaço? Entrar e ficar a ver?
Estás
sob a linha d'água
(gume
que fere o mamilo)
como um escultor pergunto
com a precisão de poros
pela
mulher dentro da pedra.
Desenrolas da torneira o
novelo que te veste
(o
corpo em repouso contem
a soma dos movimentos)
lavo-te
até ao teu cheiro até
respirar de ti
o
perfume verdadeiro.
In “Rés-do-Chão”
Editora Gótica
João Luís Barreto Guimarães
N. 1967
AROMA E AVE
Eu digo, quando assoma
O astro criador:
Deus me fizesse aroma
De alguma pobre flor!
E digo, quando passa
uma ave pelo ar:
Deus me fizesse a graça
De asas para voar!
Aroma, da janela
Me evaporava eu,
Me respirava ela
E me elevava ao céu!
E quem, se eu fosse uma ave,
Me havia de privar
A mim da luz suave
Daquele seu olhar?
In “Amor Idílico”
Estante Editora
João de Deus
1830 – 1896
BENDITA
Lá vem a Rainha Santa
Que povo e rei tudo encanta!
Rainha pela beleza,
Rainha pela virtude!
Traz também no seu regaço
Rosas do jardim do paço
Com que rei e corte ilude...
Mas com que vale à pobreza
E aos enfermos dá saúde!
Por isso muita alma aflita,
Sorrindo na desventura,
Em na vendo assomar grita:
- Oh! Bendita formosura
De corpo e alma... bendita
João de Deus
1830 – 1896
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... João Luís B...
. Recordando... Poetas do S...
. Recordando... Poetas do S...