POEMA TREMENDO
Do tremendo poema que já fiz
ou antes do tremendo poema ficaram
gestos poucos diluídos
no ar pesado para respirar
como cinzenta era a ilha
e tremenda a solidão dos passos
deslocados sob os pés de
marinhante
a tristeza da criança
sentada ao meu lado
ocultando as nódoas da blusa
a roupa inevitável pendurada
nas cordas
a dor nas costas da mãe
lavando uma vida toda
lavando uma vida toda
mas tremenda, tremenda mesmo
é esta tarde parada
em que não temos coragem
de soprar no vento
In “Outra Versão da Casa”
Edições Base
Ivone Chinita
(1943-1983)
É A GUERRA, MEU AMOR
É a guerra
meu amor, é a guerra
e os homens que fazem a guerra
não sabem o que é
Natal sem lâmpadas
mesas sem flores
tardes sem mãos.
Não entendem
isso não!
A metafísica das árvores no Natal
nem essa questão
de andar de mãos dadas
todo o ano
Para eles
o símbolo da continuidade
está nos filhos
carne do seu próprio nome
Se entendessem, meu amor
não teria morrido
o soldado que nunca vi
e tem dois filhos pequenos
Se entendessem, meu amor
não haveria uma esposa
apenas com um par de mãos
Mas eles não entendem
não entendem isto
de andar de mãos dadas
todo o ano, meu amor
In “Antologia da memória poética da Guerra Colonial”
Edições Afrontamento, 2011
Ivone Chinita
(1943-1983)
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