MÃE MENINA
Ouvi chamar-te mãe
Olhei incrédula
Ouvi dizer filho vem
Fiquei de pedra
Teus olhos brilhantes
Tez de porcelana
Expressões adolescentes
Olhar de quem ama
Levas pela mão
Esse filho irmão
De tão tenra idade
És sensibilidade
Mãe menina
Quem é que destina
Essa tua sorte
Quem te denomina
Mãe sem te dar o porte
Mãe menina
Quem te leu a sina
E te deu o mote
Para esta rima
A de Mãe precoce
Mãe menina menina Mãe
Tu que dás teu colo
Para consolo
Precisas também
De um colo de alguém
In “Resquícios de Luz”
Colecção Sinais de Poesia
Edição de Formasau – Coimbra
Isabel Seixas
N. 1961
DESCIA A NEBLINA
Na pastelaria duas
prostitutas conversavam. A magreza
de uma delas impressionava.
Não havia mais ninguém. Cadeiras
alinhadas, mesas vazias. Tudo limpo,
espelhos sem mácula. Os criados
pareciam estátuas por detrás
do balcão. Na rua, os automóveis
conduzidos por loucos. Em plena
cidade, quase aldeia, tal
velocidade é para matar.
Ao sair, o ruído era semelhante
à imagem do Inferno reproduzida
no catecismo. Descia a neblina
sobre os prédios, gaivotas
vinham da Foz. Um mendigo de barbas
atravessou a rua, despreocupadamente.
In “Erosão de Sentimentos”
Editorial Caminho
Isabel de Sá
N. 1951
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