DESEMBARCAR SUBITAMENTE NO MEIO DO MAR
Surpresa e contentamento de te ver e não saber
o teu nome nem a distância que vai dos lábios às rosas,
a sua diferença subtil - desembarcar no mar e
largar os navios à sua longa vagem, porque uma voz
nos chama, e não sabemos que voz nos chama,
e ser a tua voz sem saber que é teu o rasto
dos pássaros, o que resta das marés.
In "Metade da Vida"
Quasi Edições
Francisco José Viegas
(N.1962)
ESSA VELHA CIÊNCIA…
Essa velha ciência, a de esperar, escreve-la
em cadernos retirados a cada viagem. Neles
anotaste os movimentos do mundo, o balanço
do mar. São só velhos, os cadernos; ainda
escreves à mão, ainda respiras por ele,
ciência antiga - onde a conservas? Linha
a linha as viagens vão passando por eles como
um mapa: aqui as ilhas, ali pequenos continentes,
provas de que o mundo não acaba à tua porta
quando o jardim desaparece entre os granitos.
Levantas a voz uma vez por outra, mas não é
isso que te interessa. Gostavas apenas que
os cadernos ficassem, gravados de ti e de quem amas,
guardados em gavetas, guardando o mundo.
In “O Puro e o Impuro”
Quasi Edições
Francisco José Viegas
(N.1952)
NA BRANCA E AZUL LUZ DE ÉVORA
É assim a luz, encantamento e euforia.
Nela estou intenso e exausto, ela me acolhe
entre muros,
dela acolho o tempo, a finíssima alegria
do tempo. É nas suas margens que vive
esse rosto infinito, a altura do anjo
debruçado na solidão,
na branca e azul luz de Évora, no sul,
onde apetece a alegria, uma casa abrigada
da tempestade.
In "Metade da Vida"
Quasi Edições
Francisco José Viegas
(N. 1962)
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Francisco J...
. Recordando... Francisco J...
. Recordando... Francisco J...