DESGOSTOSA
O seu riso gentil que ainda me arrasta,
Como quem vai seguindo no deserto
Os raios dum clarão que julga perto,
Mas que a segui-lo toda a vida gasta;
Sua voz, seu olhar, sua alma casta
Todo esse altivo e festival concerto
— Brancas formas de luz que ao seio aperto
Sonhadamente, numa dor nefasta...
Esse porte de brilho e majestade
E o seu modo sincero, doce e honesto,
Tudo a sombra da Mágoa, sem piedade,
Velou, tocando-a com seu ar funesto!
Nunca eu sonhasse, ó íntima saudade,
Seu riso, voz, olhar e alma e gesto!...
In "Líricas Portuguesas"
Portugália Editora – 1957 – Portugal
António Fogaça
OS ROUXINÓIS
No meu jardim, num cedro em que a frescura
e a flor da novidade vêm brotando,
pousa, por vezes, um ditoso bando
de alegres rouxinóis, entre a verdura. . .
Quando ali vou, tristíssimo, à procura
de sossego e de luz, de quando em quando,
sinto-os vir e pousar, ouço-os cantando
no doce idílio de uma paz obscura.
E, desditoso, eu lembro com saudade,
último brilho do meu peito ardente,
que assim também, num íntimo vigor,
sobre o flóreo jardim da mocidade,
cantaram na minh'alma alegremente,
como no cedro, os rouxinóis do amor!...
In "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou"
J. G. de Araújo Jorge – Vol. II – 1ª Ed. 1966
António Fogaça
1863 – 1888
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Poetas séc....
. Recordando... Poetas do S...