Domingo, 8 de Dezembro de 2024

Recordando... Florbela Espanca

À MORTE

 

Morte, minha Senhora Dona Morte,

Tão bom que deve ser o teu abraço!

Lânguido e doce como um doce laço

E, como uma raiz, sereno e forte.

 

Não há mal que não sare ou não conforte

Tua mão que nos guia passo a passo,

Em ti, dentro de ti, no teu regaço

Não há triste destino nem má sorte.

 

Dona Morte dos dedos de veludo,

Fecha-me os olhos que já viram tudo!

Prende-me as asas que voaram tanto!

 

Vim da Moirama, sou filha de rei,

Má fada me encantou e aqui fiquei

À tua espera... quebra-me o encanto!

 

(Reliquiæ,1934)

 

In “Sonetos de Florbela Espanca”

Colecção Autores Portugueses de Ontem

Edição da Livraria Estante – Junho.1988

 

Florbela Espanca

(1894-1930)

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Quinta-feira, 1 de Abril de 2021

Recordando... Florbela Espanca

ÀS MÃES DE PORTUGAL

 

Ó mães doloridas, celestiais,

Misericordiosas,

Ó mães d’olhos benditos, liriais,

Ó mães piedosas

Calai as vossas mágoas, vossas dores!

Longe na crua guerra

Vossos filhos defendem, vencedores,

A nossa linda terra!

E se eles defendem a bandeira

Da terra que adorais,

Onde viram um dia a luz primeira

Ó mães, porque chorais?!

Uma lágrima triste, agora é

Cobardia, fraqueza!

Nos campos de batalha cai de pé

A alma portuguesa!

Pela terra de estrela e tomilhos,

De sol, e de luar;

Deixai ir combater os vossos filhos

Ao longe, heróis do mar!

Dum português bendito, sem igual

Eu sigo o mesmo trilho:

Por cada pedra deste Portugal

Eu arriscava um filho!

Por isso ó mãe doloridas, pelo leito

De morte, onde ajoelhais,

Esmagai vossa dor dentro do peito,

Ó mães não choreis mais!

A Pátria rouba os filhos, mas é mãe

A mãe de todos nós

Direito de a trair não tem ninguém

Ó mães nem sequer vós!

 

In “Trocando olhares” 1915-1917

Editora Martin Claret

 

Florbela Espanca

(1894-1930)

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Segunda-feira, 25 de Agosto de 2014

Recordando... Florbela Espanca

SE TU VIESSES VER-ME…

 

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo
E os meus braços se estendem para ti...

 

Charneca em Flor - 1930

 

In “Verbo Clássicos – Florbela – Sonetos”

Editora Ulisseia e Editorial Verbo

 

Florbela Espanca

1894 – 1930

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Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013

Recordando... Florbela Espanca

AMAR!

 

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

 

Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

 

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...

 

 

Charneca em Flor – 1930

 

In “Sonetos”

Colecção Autores Portugueses de Ontem

Edição da Livraria Estante – Junho.1988

 

Florbela Espanca

1894 – 1930

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