DESVERSOS
Não sei se li em Arnaldo Gama
ou no mapa do Automóvel Clube
envelhecer para morrer em paz
é melhor no Norte do que no Sul
pergunta a douta Ordem dos Médicos
se tenho de ser severo e brusco
em questões destas sou terminante
morre-se mais descansado com saúde
atente bem o sr. bastonário
se uma doença triste não é o cúmulo
e há mais: nos doze meses seguintes
os familiares deviam evitar o luto
digo-o para tranquilizar a Nação
em época de crise tão profunda
um enterro no Norte chega a ser alegre
morteiros gigantones bandas de música!
In "A Musa Irregular"
Assírio & Alvim - 2006
Fernando Assis Pacheco
(1937-1995)
TENTAS, DE LONGE...
Tentas, de longe, dizer que estás aqui.
Com peso triste caminha na rua o Outono.
O meu coração debruça-se à janela
a ver pessoas e carros, e as folhas caíndo.
Mastigo esta solidão
como quando era pequeno e jantava
diante dos pais zangados:
devagar, ausente.
In "A musa irregular"
Ed. Asa - 1997
Fernando Assis Pacheco
(1937-1995)
QUE IMPORTA
Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis da tua ausência.
Se não és tu, que me importa?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.
In “A Musa Irregular”
Edições Asa
Fernando Assis Pacheco
1937 – 1995
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