Segunda-feira, 1 de Agosto de 2022

Recordando... Fernanda de Castro

ATÉ QUE UM DIA...

 

Meus versos eram rosas, lírios, heras,

borboletas, regatos, cotovias

cantando suas doces melodias,

anjos, sereias, ninfas e quimeras.

 

Meus versos eram pombas entre as feras

e, na festa das horas e dos dias,

ia dançando penas e alegrias

e o ano tinha quatro primaveras.

 

E a festa continua... é também festa

o cardo e a urze, o tojo, a murta, a giesta,

a chuva no beiral, o vento Norte,

 

o gosto a mar, a lágrimas, a sal,

até que um dia a vida, a bem ou mal,

exausta de cantar me empreste à morte.

 

In "E Eu, Saudosa, Saudosa" - 1973

 

Fernanda de Castro

(1900-1994)

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Sábado, 13 de Abril de 2019

Recordando... Fernanda de Castro

O SEGREDO É AMAR

 

O segredo é amar. Amar a Vida

com tudo o que há de bom e mau em nós.

Amar a hora breve e apetecida,

ouvir os sons em cada voz

e ver todos os céus em cada olhar.

 

Amar por mil razões e sem razão.

Amar, só por amar,

com os nervos, o sangue, o coração.

Viver em cada instante a eternidade

e ver, na própria sombra, claridade.

 

O segredo é amar, mas amar com prazer,

sem limites, fronteiras, horizonte.

Beber em cada fonte,

florir em cada flor,

nascer em cada ninho,

sorver a terra inteira como o vinho.

 

Amar o ramo em flor que há-de nascer,

de cada obscura, tímida raiz.

Amar em cada pedra, em cada ser,

  1. Francisco de Assis.

 

Amar o tronco, a folha verde,

amar cada alegria, cada mágoa,

pois um beijo de amor jamais se perde

e cedo refloresce em pão, em água!

 

In "Trinta e Nove Poemas"

Editorial Império

 

Fernanda de Castro

(1900-1994)

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Quinta-feira, 30 de Novembro de 2017

Recordando... Fernanda de Castro

NÃO FORA O MAR!

 

Não fora o mar,

e eu seria feliz na minha rua,

neste primeiro andar da minha casa

a ver, de dia, o sol, de noite a lua,

calada, quieta, sem um golpe de asa.

 

Não fora o mar,

e seriam contados os meus passos,

tantos para viver, para morrer,

tantos os movimentos dos meus braços,

pequena angústia, pequeno prazer.

 

Não fora o mar,

e os seus sonhos seriam sem violência

como irisadas bolas de sabão,

efémero cristal, branca aparência,

e o resto — pingos de água em minha mão.

 

Não fora o mar,

e este cruel desejo de aventura

seria vaga música ao sol pôr

nem sequer brasa viva, queimadura,

pouco mais que o perfume duma flor.

 

Não fora o mar

e o longo apelo, o canto da sereia,

apenas ilusão, miragem,

breve canção, passo breve na areia,

desejo balbuciante de viagem.

 

Não fora o mar

e, resignada, em vez de olhar os astros

tudo o que é alto, inacessível, fundo,

cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,

iria de olhos baixos pelo mundo.

 

Não fora o mar

e o meu canto seria flor e mel,

asa de borboleta, rouxinol,

e não rude halali, garra cruel,

Águia Real que desafia o sol.

 

Não fora o mar

e este potro selvagem, sem arção,

crinas ao vento, com arreio,

meu altivo, indomável coração,

 

Não fora o mar

e comeria à mão,

não fora o mar

e aceitaria o freio.

 

In "Trinta e Nove Poemas"

Edições Ocidente - Editorial Império

 

Fernanda de Castro

(1900-1994)

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Quinta-feira, 31 de Março de 2016

Recordando... Fernanda de Castro

CANTA. BUSCA NA VIDA O QUE É PERFEITO

 

Canta. Busca na vida o que é perfeito.

Olha o sol e não queiras outro guia.

Sonha com a noite e absorve, aspira o dia,

tal uma flor que te florisse ao peito.

 

Da terra maternal, faz o teu leito.

Respira a terra e bebe o luar. Confia.

Faz de cada pena uma alegria

e um bem de cada mal insatisfeito.

 

Colhe todas as flores do jardim,

todos os frutos do pomar e enfim

colhe todos os sonhos do universo.

 

Procura eternizar cada momento,

Fecha os olhos a todo o sofrimento

E terás feito a carne do teu verso.

 

In “Daquém e Dalém Alma”

Editorial Império

 

Fernanda de Castro

(1900-1994)

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