ELOGIO ÀS LÁGRIMAS
I
Lágrima é Alma que aflora
E á beira do Céu medita,
Mas que em breve se evapora
Para ser Vida infinita!
II
Quanto uma lágrima exprime
– Encanto, Dôr, Alegria –
É o acordar do sublime,
Que dentro d’Alma dormia.
III
Os olhos são lábios d’Alma,
Dôr é sêde que devora,
Sêde de água a água acalma;
E por isso a gente chora.
Fonte de pranto desfeito
– Água divina a correr –
Vem das entranhas do peito
À flôr dos olhos nascer.
Rega a face, corre em fio,
E o seio d’Alma, nascente,
É, depois do ardôr do Estio,
Primavera novamente.
IV
Quanto mais Amor me abrazas,
Mais a Alma vai subindo,
Chega aos olhos, solta as asas…:
São as lágrimas caindo.
V
Quando em meus braços te escondes
E perguntas se te adoro,
Calo-me. – Então não respondes…? –
E eu ólho p’ra ti e… choro.
VI
Almas – raízes sepultas…
Lágrimas – flores despontando…;
Quantas belezas ocultas
Só se conhecem chorando.
VII
Olhos que choram de mágoa,
Olham a Deus bem de fito:
Numa simples gôta d’água
Vem reflectir-se o Infinito.
VIII
Chorar é partir, de mágoa,
O coração aos pedaços,
Transformá-lo em beijos d’água
E a névoa d’água em abraços.
IX
«Já que a Sorte nos aparta
Venho dar-te o coração…»
Chorando inundei a carta…
Vê se éra verdade, ou não…
X
São as lágrimas salgadas…
Pudéra que assim não fosse:
Não que depois de choradas
Sente-se a Vida mais dôce.
XI
Quando choro o chôro rola
Dos meus olhos baga a baga,
Porque é que alguem me consola,
De quem a mão que me afaga…?!
XII
Chorar por mágoas d’Amor
É a divina surpresa
De ter esquecido a Dôr,
A admirar-lhe a grandeza.
XIII
Oh! Alma, oceano profundo,
Cheio de tantos escolhos,
Mas desce-te a Dôr ao fundo,
Traz as pérolas aos olhos.
XIV
Chorar é rezar aos céus,
Fazer acto de Humildade:
Quem chora acredita em Deus,
Confessa Amor e Bondade!
S. João do Campo
In Revista “A Águia”
N.º 2 – 1.ª Série – Ano I – 15 de Dezembro de 1910
Jaime Cortesão
1884 – 1960
MANTÉM A GRAFIA ORIGINAL
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