PASSIVIDADE
Passividade suave e feiticeira
tentou-me, em tua bôca mal pintada,
nos teus olhos azuis d’alucinada,
na estopa a rir da tua cabeleira.
Minha arte d’amar, pelotiqueira,
deu fôgo à tua carne inanimada,
tornando mais gentil e articulada
a boneca que fôsses duma feira.
Levando ao ar um braço, eras adeus
a uma estranha mulher que em ti morrera
e cujo busto nu vejo entre véus…
E ao descerrares a acre flôr da bôca
a tua voz sonâmbula, de cêra,
já era um éco d’alma em alma ôca!
Coimbra, 1926
(mantém a grafia original)
In “Presença”
Fôlha de Arte e Crítica
Nº 1 - 10 de Março de 1927
Pág. 6
Edmundo de Bettemcourt
(1899-1973)
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