DOMINGO
Porto, domingo. Morre de cansada
a tarde ruiva de olhos azulinos,
isto apesar de não ter feito nada
pois que guardou os ócios citadinos.
Foi para a Foz, levou a pequenada
para os folguedos próprios dos meninos,
e a certa altura estava tão corada
como quem bebe largos vinhos finos.
Agora esvai-se e mancha de vermelho
os vidros altos deste Porto velho
que muito preza as tardes domingueiras.
É que amanhã começa uma semana
de luta imensa e inveja e luta insana,
uma infernal semana de canseiras.
In “Caminho Longo”
Papiro Editora
Manuel de Oliveira Guerra
1905 – 1964
DOMINGO
Hoje é o dia dos senhores
e dos sóis em algumas línguas. Noutras
já foi ontem ou será depois, conforme
o cansaço divino sucedeu ou
não ao sétimo dia. Vária
gente irá aos templos ou ao parque
passear o cão. É dia de
visitar o lar de idosos ou de
abastecer a nossa arca
congeladora. Os pais solteiros levam
os filhos a comer pizza e outros
putativos progenitores recuperam
as horas de sono convivialmente
líquidas. O ar das ruas
é mais leve devida à pausa de
domingo. Ao menos hoje acontece
algo de bom em nome de Deus.
In “Logros Consentidos”
&etc – 2005
Inês Lourenço
N. 1942
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