DOIS POEMAS DA PRAIA DA AREIA BRANCA
1
Na praia da Areia Branca
os búzios não falam só do mar:
– falam das pragas, dos clamores,
da fome dos pescadores
e dos lenços tristes a acenar.
Búzios da praia da Areia branca:
– um dia,
haveis de falar
unicamente do mar.
2
No fundo do mar,
há barcos, tesoiros,
segredos por desvendar
e marinheiros que foram morenos ou loiros.
Ali, não são morenos nem loiros:
– são formas breves, a descansar,
sem ambições para os tesoiros
e de cabelos verdes dos limos do mar.
Serenos, serenos, repousam os mortos,
enquanto o mar
ensina o mundo a falar
a mesma língua em todos os portos.
In “Passagem de Nível”
Portugália Editora
Sidónio Muralha
1920 – 1982
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