DESTINO
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Floresce!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
In “Folhas Caídas – Livro Primeiro”
Almeida Garrett
(1799-1854)
DESTINO
Minhas mãos
Que jamais tocaram teu corpo, mulher,
Saboreiam teu andar de cigana,
Descalço,
Sobre o trigo.
Esse trigo já maduro, já rebelde do perder da infância…
Meu amor de abandono e de segredo,
Qual absinto.
Rosa vermelha entre os seios…ombros largos de Abril.
Meu destino.
Guardo teu riso de euforia a despertar todas as alvoradas
Minha amante, meu suplício…
Guardo tuas lágrimas de menina como uma promessa
Nenúfar de luar.
…E no teu ventre por mim incendiado de ternura,
Mulher,
Resplandecerá Semente
Tal como o lavrador lançando o arado à terra,
Só para ser tua eira, teu caminho, tua vereda,
O próprio pó que acaricia teus pés,
E poder contemplar-te para sempre
Na gestação de um hino,
Ou num grito,
Que minhas mãos erguem à ventania num compasso
De sinfonia,
Este pão, este caminho parido como um filho,
Este diálogo entre o silêncio e a coragem,
Entre o sangue e a seiva de um povo num agitar de bandeira,
No teu ventre de Mulher.
In “Enquanto Sangram As Rosas…”
Edição do autor com apoio da C.M. Loures
Célia Moura
(N.1971)
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